A identificação correta dos fenômenos de favelização é fundamental para a formulação de uma série de políticas públicas. Entretanto, a principal fonte oficial de informação a nível nacional, a classificação de setores subnormais disponível nos censos demográficos, não é comparável entre diferentes edições dos censos. Em particular, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indica no Censo 2010 que houve aprimoramento na capacidade de identificação de áreas subnormais, impossibilitando comparações diretas com o Censo 2000. Este artigo apresenta uma metodologia que permite a construção de estimativas comparáveis entre 2000 e 2010 das áreas e populações residentes em favelas. O método explora a possibilidade de parear os setores censitários de 2000 e 2010 para então reclassificar as áreas de favelas do Censo 2000 com base nas informações mais precisas dos setores subnormais do Censo 2010. Após construir uma classificação comparável, o artigo analisa a evolução do crescimento populacional e também as características socioeconômicas das favelas no Brasil e nas suas principais regiões metropolitanas. Os resultados mostram que, enquanto a comparação dos dados originais destes dois censos indica que a população residente em favelas teria crescido 75%, os dados corrigidos mostram um crescimento de apenas 8,6% entre 2000 e 2010. Também mostra-se que houve, de modo geral, melhorias nas condições socioeconômicas das favelas, chegando a exceder as melhorias observadas nas demais áreas.